sexta-feira, 13 de março de 2009

III

- tá pensando em que muleque? tem o que pensar não. Trabalha!
estava sonhando, sonhando apoiado na enxada embaixo do sol,
nem ele sabia sua idade, mas tinha mais de 10 apesar de aparentar ser bem mais velho.
Desde que se tem notícias trabalha na roça com o pai,
ajudando a família a ter
a comida que nunca vê
a água que nunca aparece,
pés descalços queimados do chão rachado.
Mais um dia árduo de trabalho, acorda antes de ver o sol nascer.
e anda, anda como um escravo perdendo a infância em meio a poeira do seu deserto.
As mãos grossas e calejadas ardiam de dor, morria de fome, morria de sede.
- Pai, dá água pra eu!
Ele retirou de uma quartinha cheia pela metade
uma água suja, daquelas que são disputadas com o gado magro.
Bebeu, estava acostumdo com tudo isso.
E sentiu, sentiu o corpo ir ao chão e o sangue quente escorreu em sua testa.
- Dá próxima vez eu dô-lhe uma que ocê nem levanta mais! Essa água é pra semana, né pra inventar de tumar tudo não! Agora vem cá pra ajeitar essa testa.
Ainda era segunda - feira.
Pegou um pedaço de camisa que vestia, rasgara fácil, velha demais. Amarrou no ferimento do menino.
A lágrima escorria sobre seu rosto, o sofrimento era aparente, mas lutava, lutava contra sua realidade. Enquanto novamente se botava a pensar na miséria que vivia.
Seu nome?
Seu nome é Socorro.

(Bárbara Nunes)

4 comentários:

Guilherme Rocha disse...

Ain B.a, que triste :S

Cosmic girl. disse...

Retrata a realidade nordestina, escrita divinamente :D
tens futuro, b.a (Y)
:*

Jéssica disse...

Porra emuxinha muito boa esse história e melhor ainda foi esse final. Tu retrato muito bem essa realidade que nós queremos excluir de uma vez por todas do Brasil, ou melhor do mundo. Colocasse um tema atual de um jeito bem original de se expressar, parabéns :), continue assim que virarei sua fã USHAUSHUAHSUHAUSH!

beijo :* (L)

Marília Chaves disse...

O texto é Breve, mas intenso e muito condizente com a nossa realidade.
Gostei muuito, cê sabe.

beijosgordona
(L